17 de xul. de 2010

FMI, não disparem

A economia europeia nestes últimos dois anos tem-se caracterizado por um incessante tapar buracos baixo as continuas dicas do FMI, um remendar contínuo do telhado (défices, dívida e tasa de juros) sem cuidar-se o estado da estrutura (capacidade industrial, formação efectiva e inovação)

As debilidades estruturais do Sul da Europa têm-se tornado mais visíveis na medida em que se foi perdendo financiamento externo. Decuidaram-se os bens transaccionáveis internacionalmente (indústria em geral) para crescer fragilmente em base aos bens que não se podem exportar (construção, utilites, restaurantes, pequenos serviços e lazer).

É verdade que o nosso mercado de trabalho é rígido mas as medidas foram erradas. A baixa dos ordenados de um corpo de funcionarios hipertrofiado e o despedimento barato não solucionam realmente os problemas. A congelação dos quadros de funcionários e os incentivos ao bom desempenho na administração teriam sido muito mais eficazes do que um castigo geral e indiscriminado.
Alem disto, existe um vazio legal com o freelancismo casual que trava os novos pequenos empregos e o emprendedorismo enquanto premeia o trabalho à margem da lei fiscal. Neste eido acho ajeitada a proposta de Iván Prado: http://www.ivanprado.es/2009/06/propuesta-para-el-gobierno-facturacion.html
A lei de arrendamentos tambem resulta tão rígida que nem sequer garante um marco legal para os alugueres por menos de um ano, o que dana a mobilidade dos estudantes com menos recursos (que só precisam um aluguer de 8-9 meses) e dos trabalhadores de verão (que só necessitam de três a seis meses).

Por outra banda, os bancos e caixas com uma má gestão foram avalados com dinheiro público em lugar de incentivar a concorrência com um banco público. Hoje, essas instituiçoes focam sua atenção na apresentação de umas contas anuais aceitáveis pelo mercado de valores em vez de tentar obter lucro no longo prazo. Isto passa o problema financeiro da banca para a dívida do estados e para as famílias e pequenas empresas que, mesmo sendo rendíveis, não possuem acesso ao crédito para ajustar os diferentes tempos de compras e vendas.

Finalmente, a rigidez orçamental imposta pelo FMI e que foi aceite pelos governos contra a vontade popular não permitira a utilização dos instrumentos macroeconómicos necessários para superar a crise estrutural ou uma longa estagnação. Existem exemplos recentes do fracasso das medidas de redução do investimento publico, da ausência de um stimulus plan, na crise Argentina e na chamada década perdida do Japão. Veja-se http://en.wikipedia.org/wiki/Lost_Decade_(Japan)